Doenças Relacionadas ao Metabolismo do Ferro (parte I)
Como visto na postagem introdutória ao assunto do ferro, este elemento é essencial para os seres humanos. Assim, sua deficiência acarreta em distúrbios metabólicos vitais, dentre os quais, o mais importante é a anemia, condição a qual atinge cerca de 30% da população mundial e esse percentual chega a 50% em crianças menos de dois anos de idade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A OMS define como carência de ferro o quadro em que as reservas corporais desse metal não são suficientes, limitando a produção de hemoglobina e, em casos mais graves, há associação com a anemia (WHO, 2001).
Os motivos que podem levar a deficiência desse metal são vários, dentre as quais podemos citar:
- Baixa disponibilidade no ambiente: ocorre quando não há uma alimentação adequada
- Absorção inibida: ingestão de metais que competem a maquinaria de absorção do ferro, como o chumbo, cobalto e estrôncio, dentre os quais o primeiro é o mais perigoso.
- Danos na mucosa entérica: inflamações, sangramentos e descamação do epitélio (esse último típico da doença celíaca) diminuem a área de absorção. A extração cirúrgica de partes do intestino também diminuem a absorção de ferro, mas em menor escala.
Além desses, hemorragias são uma grande fonte de perda de ferro, pois acarreta na perda de hemoglobina, assim, o ferro nela contido não poderá ser reaproveitado pelo fígado. Segundo o Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria, uma fonte comum de hemorragias gastrointestinais em neonatais é a alimentação com leite de vaca. Este possui várias proteínas que irritam o trato digestório ainda frágil da criança, produzindo pequenas hemorragias em diversos pontos. Além disso, o ferro nele contido não é tão bem absorvido como aquele originado do leite materno, o que, muitas vezes, também acarreta em casos de anemia.
Pessoas com anemia por deficiência de ferro apresentam:
- Fadiga, falta de fôlego, tontura, dor de cabeça, frio nas mãos e pés, palidez, e dor no peito
- Problemas cardíacos como: arritmia, sopro cardíaco, coração aumentado, ou até insuficiência cardíaca.
- Em bebês e crianças pequenas, os sinais de anemia incluem apetite ruim, desenvolvimento retardado, e problemas comportamentais.
Importante citar a participação da vitamina C na absorção do ferro em nosso intestino delgado, por isso, muitas vezes, a prescrição de alimentos que a contenham está associada ao tratamento medicamentoso. Este é realizado a partir de remédios ricos em ferro na sua fórmula.
Outra forma de precaução da anemia ferropriva é o enriquecimento de alimentos com esse metal, como é feito, no Brasil, com a farinha de trigo, achocolatados, cereais matinais, entre outros.
No entanto, como diz o velho ditado: Tudo em excesso faz mal. O ferro não é exceção e o acúmulo desse metal no corpo é danoso e pode ser fatal. Mas falaremos desse tópico na próxima postagem.
O ferro: História e importância
O ferro (do latim, ferrum) é utilizado há muito tempo, assim, sua “descoberta” como elemento químico não pode ser atribuída a ninguém. Estima-se que a utilização do ferro date de mais de 2000 anos AC, ainda que o provável primeiro processo para extração do ferro somente tenha surgido aproximadamente em 1500 AC, pelos Hititas. O início da utilização do ferro pelas civilizações é tão determinante que um período da pré-história leva o seu nome: a Idade do Ferro.
O ferro é o elemento que permitiu o desenvolvimento da sociedade. Atualmente, a maioria dos objetos ao nosso redor dependem, direta ou indiretamente, da aquisição desse elemento, mas muitos não entendem o seu valor, pois ele é muito comum (corresponde a 34,5% da massa da Terra). Além de ser essencial para a sociedade, o ferro é também indispensável para a vida humana (e de muitos outros animais).
No corpo humano, o ferro é essencial em diversas reações, como, por exemplo, na defesa imunológica natural (macrófagos, neutrófilos, etc.) e no transporte de oxigênio. Em nosso organismo, encontramos o ferro, normalmente, formando um grupamento denominado grupo heme:
Esse grupo esta presente, principalmente, em:
- HEMOGLOBINA: pigmento do glóbulos vermelhos presentes no sangue. É a proteína responsável pelo transporte de O2.
- MIOGLOBINA: transporta e armazena O2 dentro das células musculares.
- CITOCROMOS: proteínas transportadoras de elétrons, as quais participam da cadeia respiratória no processo de respiração celular.
- ENZIMAS: principalmente nas catalases e peroxidases, responsáveis pela degradação de radicais livres.
Dada a importância do ferro, o sistema excretor adaptou-se a não excretá-lo, portanto, as perdas ocorrem, principalmente, através de hemorragias. Pelo mesmo motivo o consumo diário desse elemento não é elevado e varia de acordo com a idade e com o sexo (mulheres necessitam de mais devido a sua perda mensal de sangue), a saber:
-Crianças: 6 a 12 mg/dia -Mulheres: 15 mg/dia
-Homens: 10 mg/dia -Gestantes: 30 mg/dia
Principais fontes de ferro na alimentação:
Animal: carne vermelha, principalmente fígado e outras vísceras (miúdos), carnes de aves e de peixes e mariscos crus.
Vegetal: folhosos na cor verde ( ex: cheiro-verde, couve), leguminosas (feijão, soja, ervilha), grãos integrais ou enriquecidos, nozes e castanha, melado de cana, rapadura e açúcar mascavo.
Referências bibliográficas:
GUYTON, Arthur C. HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 11ª ed.